Fazendo a diferença
*Gonzaga Rodrigues
Nota-se claramente que a grande diferença visual entre a cidade nova, flechada de edifícios, e a cidade antiga montada entre os dois rios, é a ausência de características marcantes no adensamento vertical que vem emergindo.
Com a máquina focada para o mar, a partir do Altiplano, do Miramar, do Jardim Luna ou da avenida-shopping que é hoje a estrada de Cabedelo, a superposição de andares não faz diferença da que subiu nas demais capitais vizinhas. Pelo feixe de torres céu acima, tanto faz a engenharia de João Pessoa como a de Fortaleza, Natal, Maceió, salvando-se Recife, apenas pelo privilégio de seus acidentes naturais.
A diferença continua nas ruas e torres da cidade antiga ou no destaque de um parque como o nosso Sólon de Lucena, postal que dá na vista de qualquer turista, independente da curtição de suas lentes.
Reginaldo Marinho, jornalista, inventor e fotógrafo, identifica diferenças para melhor, em cores e linhas arquitetônicas, na nossa paisagem de andares. Esses andares não lhe parecem totalmente cegos, iguais, monótonos, como a mim sempre pareceram, observação que deu na vista também de meu amigo Toinho Cabral. Reginaldo consegue ver variações de cores e de linhas.
E tenta mostrar isso num novo apanhado fotográfico. Novo não só por estar sendo produzido, ainda em tratamento de estúdio, mas pela angulação.
O que sempre achei difícil, ele conseguiu: enquadrar a floresta vertical entre pontos característicos da nossa orla, o Cabo Branco e o Hotel Tambaú. Soube encontrar uma janela do último andar de Miramar que salva esses dois pontos do tapume de edifícios. Reconhece-se a João Pessoa das origens, balizada pelo Cabo Branco, e a mais nova, a que começou a se expor para o mundo turístico a partir do Hotel Tambaú.
Em seu acervo de filho amantíssimo da cidade, sofrido e culto, há lugar para o histórico, o sagrado, o monumental e também para o que aflora do pessoense com os seus jardins. As flores cultivadas e as dos passarinhos.
Ele conseguiu o instante feliz, protegido pela hora do sol, a luz molhada das folhas e achega de um beija-flor sedento num jardim campestre que sugere o mais natural cartão de Natal da cidade. Uma saudação e uma lembrança dos seus dons ao colosso de cimento da nova febre construtora.
Mais do que um novo álbum fotográfico, Reginaldo Marinho redescobre a cidade que ainda resta, ou melhor, que sobra da massa gigantesca concretada diante dos nossos olhos.
*Gonzaga Rodrigues é jornalista, escritor e presidente da Academia Paraibana de Letras.
CAPA
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
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