quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Prefácio

Fazendo a diferença

*Gonzaga Rodrigues

Nota-se claramente que a grande diferença visual entre a cidade nova, flechada de edifícios, e a cidade antiga montada entre os dois rios, é a ausência de características marcantes no adensamento vertical que vem emergindo.

Com a máquina focada para o mar, a partir do Altiplano, do Miramar, do Jardim Luna ou da avenida-shopping que é hoje a estrada de Cabedelo, a superposição de andares não faz diferença da que subiu nas demais capitais vizinhas. Pelo feixe de torres céu acima, tanto faz a engenharia de João Pessoa como a de Fortaleza, Natal, Maceió, salvando-se Recife, apenas pelo privilégio de seus acidentes naturais.

A diferença continua nas ruas e torres da cidade antiga ou no destaque de um parque como o nosso Sólon de Lucena, postal que dá na vista de qualquer turista, independente da curtição de suas lentes.

Reginaldo Marinho, jornalista, inventor e fotógrafo, identifica diferenças para melhor, em cores e linhas arquitetônicas, na nossa paisagem de andares. Esses andares não lhe parecem totalmente cegos, iguais, monótonos, como a mim sempre pareceram, observação que deu na vista também de meu amigo Toinho Cabral. Reginaldo consegue ver variações de cores e de linhas.

E tenta mostrar isso num novo apanhado fotográfico. Novo não só por estar sendo produzido, ainda em tratamento de estúdio, mas pela angulação.

O que sempre achei difícil, ele conseguiu: enquadrar a floresta vertical entre pontos característicos da nossa orla, o Cabo Branco e o Hotel Tambaú. Soube encontrar uma janela do último andar de Miramar que salva esses dois pontos do tapume de edifícios. Reconhece-se a João Pessoa das origens, balizada pelo Cabo Branco, e a mais nova, a que começou a se expor para o mundo turístico a partir do Hotel Tambaú.

Em seu acervo de filho amantíssimo da cidade, sofrido e culto, há lugar para o histórico, o sagrado, o monumental e também para o que aflora do pessoense com os seus jardins. As flores cultivadas e as dos passarinhos.

Ele conseguiu o instante feliz, protegido pela hora do sol, a luz molhada das folhas e achega de um beija-flor sedento num jardim campestre que sugere o mais natural cartão de Natal da cidade. Uma saudação e uma lembrança dos seus dons ao colosso de cimento da nova febre construtora.

Mais do que um novo álbum fotográfico, Reginaldo Marinho redescobre a cidade que ainda resta, ou melhor, que sobra da massa gigantesca concretada diante dos nossos olhos.

*Gonzaga Rodrigues é jornalista, escritor e presidente da Academia Paraibana de Letras.

CAPA

Prefácio do autor

Uma cidade mais vegetal do que urbana

Reginaldo Marinho

Na década de sessenta, o escritor José Américo de Almeida havia chegado com bastante antecedência para uma cerimônia na Reitoria. Wilson Marinho e outros professores presentes tiveram a iniciativa de convidá-lo para ver a cidade do alto do prédio da antiga Reitoria da UFPB, no centro da cidade.

O homem permaneceu calado por muito tempo. Olhava calmamente de um lado e de outro da cidade. Dali podia avistar Cabedelo, do lado esquerdo, Tambaú bem à sua frente e o Cabo Branco à direita. A mata do Buraquinho, para onde estava sendo transferida a UFPB, se destacava naquele cenário. Tudo verde. As casas se perdiam no meio dos quintais arborizados. Depois de uma longa observação ele disse: “João Pessoa é mais vegetal do que urbana.” Com esta frase, José Américo prenunciou o destino de João Pessoa, uma cidade construída para ser verde.

A cidade crescia. O êxodo rural decorrente da pobreza no campo e da ausência de políticas públicas eficientes, para manter o homem em seu meio e fortalecer a economia rural, resultou no inchamento das capitais; João Pessoa sofreu essa pressão migratória, expandindo suas fronteiras.

Gilberto Freyre elaborou um conceito para esse fenômeno que se aproxima da leitura de José Américo. Ele disse que o Brasil estava se transformando em uma civilização rurbana, inventando esse vocábulo composto.

É isso aí. O rural invadindo as capitais. Um urbanismo, ao seu modo, rural. Essa migração trouxe para a cidade uma população rural sem qualificação profissional. O crescimento desordenado impôs grandes mudanças urbanas.

A ideia de fazer estas fotos está desvinculada de qualquer estudo ou proposição sociológica, arquitetônica, histórica ou mesmo turística. Ao fazer essas imagens, tive a intenção de registrar em fotografias o que as minhas retinas fixaram em meu olhar desde a infância e, agora, quero compartilhar com você o que os meus olhos vêem.

São imagens que evocam um tempo romântico, em que a gente tinha prazer e liberdade de andar pela cidade, de sentir cada rua, cada ladeira e apreciar cada monumento dessa preciosa urbe. São fotos da Lagoa, da Bica, do Varadouro, do Cabo Branco, da Arte Sacra, do Sanhauá...

Um passeio visual pela cidade que se estende entre o rio Sanhauá e o oceano Atlântico é apaixonante. O patrimônio histórico nos remete a um tempo longínquo que sugere a dimensão da nossa capacidade de criar nas várias linguagens artísticas, tudo com muita qualidade; com destaque para o barroco rico em preciosos ornamentos encontrados na arquitetura religiosa.

Os edifícios compostos pelos conjuntos do convento de Santo Antônio e igreja de São Francisco, o convento e igreja de São Bento e o conjunto Carmelita são monumentais. Sem qualquer disciplina, atendi apenas aos meus sentimentos e passei a registrar essa beleza.

As imagens desse repertório latente somam-se às mais modernas, com a inclusão da rica arquitetura contemporânea que se faz na Paraíba. Confesso que esse trabalho se transformou em puro deleite, é isso que pretendo que você experimente agora. Aprecie esta cidade.

O tempo e a luz (contracapa)

Ao cumprimentar um dileto amigo ele disse: “Estou correndo contra o tempo.” Fiquei pensando como alguém escolhe um adversário que existe desde o início de tudo e nunca terá fim, é uma escolha equivocada. Considero o tempo um aliado permanente. O tempo e a luz. Quem se dedica à fotografia cultiva a harmonia entre o tempo e a luz. Viver cada momento na cumplicidade da luz.

A sintonia com o tempo permite que o olhar esteja em permanente vigília, um modo budista de ver e sentir o universo que nos cerca. Sem essa dedicação ao tempo, nos perdemos em frações temporais e os momentos fugidios não esperam por você. Essa é uma necessidade pura. Quando cultivamos essa sintonia, vemos os fatos com mais clareza, tudo passa a ter um significado e cabe a cada um de nós a captura dessas imagens sem esforço, um gesto natural.

A luz, companheira sempre presente, dá beleza e relevo a tudo. Os objetos ganham definição, nitidez e cores. A própria etimologia sintetiza na fotografia a linguagem da luz. O tempo e a luz estão presentes em tudo e muitas vezes ninguém percebe. Você não age para o coração bater.Não se sente o coração pulsar em todos os momentos de nossas vidas. Tem gente que só descobre o coração tardiamente, na hora do infarto.

No exercício do magistério, quando lecionei geometria descritiva, encontrei o outro elemento complementar, a compreensão dimensional, o espaço. A régua e o compasso se uniram ao tempo e à luz formando um conjunto instrumental indissociável que subsidiam um simples gesto de fotografar, permitindo que você perceba através das imagens capturadas um mundo que não foi percebido antes. Uma imagem que expressa apenas aquele momento conjugado por esses fatores jamais será vista novamente, com aquela mesma dimensão. Um rio jamais será o mesmo rio, ele é único em cada instante, em cada espaço e tempo.

Esse é o compromisso do fotógrafo, traduzir a beleza aparentemente oculta nas formas, nas cores e na luz. Fotografar é um ato generoso que revela grande prazer na fixação e compartilhamento dessas imagens.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

-Cabo Branco, monumento natural de rara beleza


Praia do Cabo Branco com cobertura vegetal de jitirana, Merremia aegyptia, típica da região.





Pela Geografia, a Ponta do Seixas é o ponto mais oriental da América. Bem ali no quintal de Marcus Aranha. Um lugar sagrado que ainda guarda as emanações telúricas de Atlântida, o continente lendário perdido nos confins do oceano. Esse marco geográfico, teoricamente, aproxima a Paraíba da África e da Europa.

Um território que convida à meditação e contemplação, embaladas pelo sopro suave dos alísios, as folhas dos coqueiros cantam os seus mantras que nos fazem viajar pelos universos ancestrais.

Entretanto, a alguns metros dali na direção Norte e outros a Oeste, surge o monumento natural que simboliza a capital da Paraíba, a terra dos Potiguaras. Constituído de argilas e areias multicoloridas, o Cabo Branco avança bravamente sobre o mar e o continente se derrama suavemente no oceano Atlântico.

O Cabo Branco enriquece o imaginário paraibano. Uma falésia atrevida que desafia a força das marés e impõe uma beleza plástica rara, que diferencia a paisagem urbana daqui das outras capitais brasileiras. A falésia é soberana e a força mágica que emana de seus minerais fortalece a têmpera do caráter paraibano.

Coberta por seu manto verde, a falésia acompanha a orla por alguns quilômetros. Uma paisagem que deve ser preservada para sempre, assegurada por dispositivo da Constituição do Estado, um patrimônio paisagístico que a natureza nos oferece generosamente. O convite à meditação é irrecusável. Daquele templo natural, a nossa mente navega entre oceanos e civilizações, sem precisar tirar os pés do chão.

De sua parede argilosa brotam cores que tingem harmoniosamente esse singular monumento da terra, uma pintura viva e dinâmica que se altera com as intervenções das marés desde o começo de Universo.

Fala-se em projetos fabulosos para interromper esse processo natural e espetacular que a natureza nos ofereceu, cujo único tributo que ela cobra é o respeito pela sua preservação que seria prejudicada por qualquer dessas sandices.

A cada dia ficam mais evidentes os grandes desatinos praticados em nome do progresso que deixa atônita toda a humanidade. Permita que o Cabo Branco interaja com a sua natureza, pise naquele chão e sinta o cheiro do mar. Se perca por alguns momentos em seu próprio universo.





Ponto mais oriental das Américas.


Aqui o sol nasce primeiro.

Praia de Tambaú.

Praia de Manaíra.

-O verde domina a paisagem


Vestígio da mata ciliar do rio Jaguaribe.


De origem tupi-guarani, Jaguaribe significa rio das onças, que sugere a existência de uma fauna exuberante em nossas terras no passado. Esse é um rio de pequeno porte que nasce e morre no município de João Pessoa. É pequeno em suas dimensões, mas valioso do ponto de vista ambiental e paisagístico. Desde a mata do Buraquinho, de onde sai fortalecido, logo perde sua vitalidade, até desaparecer sob a BR 230 sendo transformado em um canal.

O rio Jaguaribe apresentará seu real potencial ambiental, paisagístico, urbanístico e turístico quando for devidamente cuidado.

-Moderna arquitetura paraibana

Até a década de 50, a praia de Tambaú era praticamente um bairro de veraneio. As famílias com maior poder aquisitivo tinham uma casa no centro e outra em Tambaú para passar as férias. As praias de Cabedelo eram mais usadas por famílias de outras cidades. A partir da década de 60 e 70, esse hábito começou a mudar e algumas casas foram sendo construídas para uso definitivo. Nessa mesma época, o arquiteto Acácio Gil Borsói, radicado no Recife, influenciou bastante as tendências e as construções residenciais daquele período. Era o modernismo que encontrava abrigo no gosto paraibano, embalado pela consolidação arquitetônica na construção de Brasília.

Mário Glauco di Láscio, Carlos Alberto Carneiro da Cunha, Leonardo Stuckert Filho e Roberval Guimarães tiveram atuações destacadas. Quase todas as residências dessa fase se encontram totalmente descaracterizadas, em sua maioria abrigando estabelecimentos comerciais. Como essas alterações agridem os projetos originais, tornando-os absurdamente feios, irreconhecíveis.

A vocação residencial de Tambaú fora descoberta. Mais e mais famílias passaram a adotar as casas-de-praia como residência definitiva e a arquitetura modernista foi avançando em direção da orla. Foi um rico momento para nossa arquitetura. Belas casas foram construídas à beira-mar. Esses imóveis que marcaram aquela época estão descaracterizados.

As residências que conservam o seu estilo original permitem a observação de uma arquitetura que considerava a integração ambiental como fator essencial, percebe-se a intenção de aproveitamento da luz e da ventilação litorânea.

O uso de geometrias arrojadas, grandes vãos com confortáveis varandas e colunas em formas de “V” deixaram uma marca inconfundível da época, tendo Brasília como símbolo nacional desse estilo. Os móveis pés de palito acompanhavam esse estilo, arquitetura e mobiliário falavam a mesma linguagem.

Somente nos anos 80, com a formação dos primeiros arquitetos da UFPB e o boom imobiliário de João Pessoa foi que a arquitetura moderna paraibana ganhou as feições atuais.

Os jovens arquitetos esbanjaram ousadia, particularmente nas cores. Observando-se à distância, os edifícios da orla, percebe-se uma combinação cromática aleatória que resulta em um gigantesco painel de efeito fractal.

Certamente que a escolha dessas cores não é submetida a nenhum programa, pois os pontos de observação são infinitos e o resultado é sempre alegre. Essa jovialidade arquitetônica policromática se amplia com a luz tropical incidente em todas as estações. A arquitetura moderna paraibana é muito alegre e colorida, reflete a diversidade cultural e étnica presentes em nossa sociedade.

Estação Cabo Branco, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer.

Anfiteatro





Vista da avenida Epitácio Pessoa.

Exemplos da moderna arquitetura da cidade.


Átrio do Tambaú Flat.

domingo, 22 de junho de 2008

-Verde que te quero ver


O Parque Arruda Câmara, conhecido por Bica, localizado em Tambiá, a menos de quinhentos metros do centro da cidade, é uma justa homenagem ao médico e botânico e padre brasileiro Manoel de Arruda Câmara, nascido na cidade de Pombal, a mesma onde nasceu outro ilustre paraibano, o economista Celso Furtado. É um parque zoobotânico que abriga dezenas de animais em 43 hectares de Mata Atlântica.

Arruda Câmara era um frade carmelita que estudou medicina em Montpellier na segunda metade do século XVIII e adotou os princípios da Revolução Francesa de liberdade, igualdade e fraternidade, voltando ao Brasil fundou a primeira loja maçônica do país denominada Aerópago de Itambé.

Ali, os ideais revolucionários germinaram com muita força, eclodindo em seu seio a Revolução de 1817. A contribuição científica e política de Arruda Câmara deixa uma marca indelével na História do Brasil.

A fonte do parque foi urbanizada na mesma época em que Arruda Câmara atuava nos movimentos revolucionários de Pernambuco. Em 1782, a Provedoria da Fazenda Real autorizava a edificação da fonte que até hoje inspira os visitantes com a lenda de dois apaixonados membros de tribos rivais. Aipé era filha do cacique potiguar que se apaixonou pelo guerreiro cariri Tambiá que foi aprisionado e ferido de morte teve seus ferimentos cuidados por Aipé. Com a morte dele, Aipé teria chorado cinqüenta luas sobre a tumba do amado e desse pranto nasceu a fonte Tambiá.
Sem o glamour do Parque Trianon, em plena avenida Paulista,ou do Central Park, em Nova York, mas Bica é sempre um ambiente que desperta momentos românticos.
Suas alamedas são percorridas por casais apaixonados absorvidos pela cumplicidade da exuberante natureza.

O ar puro liberado pela mata torna o passeio muito agradável, principalmente para as crianças que se divertem com os animais selvagens de várias procedências em recintos limpos e seguros.

João Pessoa que já mereceu os títulos de Capital das Acácias, segunda cidade mais verde, que abriga o ponto mais oriental da América, agora, eu proponho Cidade dos Jequitibás. Essa árvore magnífica, símbolo da Mata Atlântica, cujo nome significa, em tupi-guarani, gigante da floresta, tem um fuste que pode atingir 50 metros de altura.

No perímetro urbano da capital vamos encontrar a maior concentração dessa espécie em uma cidade brasileira. A mata do campus da UFPB abriga dezenas delas, a Mata do Buraquinho mantém uma quantidade ainda maior dessa maravilha botânica. A Bica tem apenas dois exemplares, um deles tem um tronco com dois metros de diâmetro no colo do caule.

Uma das cidades mais verdes do Brasil, João Pessoa possui em seu perímetro urbano mais de 1000 hectares de Mata Atlântica, num raio inferior a dois quilômetros do centro da cidade, distribuídos em 515 hectares na Mata do Buraquinho; 333 hectares no campus da UFPB; 200 hectares no engenho da Graça e 43 hectares no Parque Arruda Câmara.

Temos a maior reserva urbana nativa de Mata Atlântica. João Pessoa perde apenas para a cidade do Rio de Janeiro em área florestal urbana, mas a Floresta da Tijuca é uma mata secundária, ela já foi uma grande fazenda de café, no século XIX.



Jequitibá, Cariniana strellensis e jacarandá-rosa, Dalbergia miscolobium.

Tronco de sumaúma, Ceiba pentandra.

Belo conjunto de palmeiras imperiais Roystonea oleraceae, na Bica.

Jardim do Tropical Hotel Tambaú.

Flores de pau-brasil, Caesalpinia echinata - Parque Solon de Lucena.

Flores de abricó de macaco, Couroupita guianensis.

Jardins da capital evocam os símbolos do Sertão. Mandacaru florido, Cereus jamacaru.

Flores da palma forrageira, Opuntia ficus-indica.

Grupo de bico-de-lacre na vegetação do rio Jaguaribe.

Marrecos no lago da fazenda da Graça da Cimpor.

Ninhal de garças na fazenda da Graça.

Colibri na Bica.

Ninho de colibri na fazenda da Graça.

Capela da fazenda da Graça com ninhal de garças.

-Vista parcial do Centro Histórico


sábado, 21 de junho de 2008

-Igreja São Francisco e Convento Santo Antônio

A locação do convento da ordem franciscana foi privilegiada. Em seu terreno foi encontrada uma jazida de calcário com densidades variadas, sendo uma delas muito densa, macia, com cristais finos, próprias para esculturas como descreveu o Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, conservando a grafia original, em Crônicas dos Frades Menores da Província do Brasil, em meados do século XVIII: “Nesta ...pedreira... do Convento se tirou, e tira, ainda que já hoje com algum trabalho de desmontar a terra pelos seus altos, toda a pedra, assim de cantaria, como a mais, que He necessária a qualquer obra ou edifício. Consta de vários bancos, como explicão os mestres da arte.

Do primeyro que se cobria ao principio, e pelas bayxas de pouca terra, e em muitas partes descuberto, se tira a pedra tosca, e dura de alvenaria, do segundo outra menos áspera mas forte, de que se faz perfeita e forte cal, do terceyro cabeços para fortalecer as paredes e do quarto a que serve para se lavrarem portaes, e outras semelhantes peças, não tão dura, e áspera, como as primeyras, mas muito mais alva, sólida e Liza da qual se fazem lavragens.

Toda sérvio de grande conveniência e menos custo para as obras do convento que muito depois se levantou de novo, tirando-se de dentro da sua cerca todo o material de pedra e cal e tãobem o saibro, que serve em lugar da areia, e He huã terra algum tanto vermelha que depois de tirada alguã, se segue esta athe se dar com o primeyro banco da pedreira, e tudo isto se tira do terreno da cerca, sem a moléstia de o pedir, e comprar fora
".

O conjunto franciscano é, sem dúvida, o monumento mais notável da Paraíba e os que planejaram a obra trabalharam com a visão de contemplação no grau mais elevado. Tem-se a sensação de que a igreja, com seus ricos adornos barrocos, oferece o apogeu de visualização com a passagem do equinócio de primavera.

Até a passagem dessa efeméride, a luz solar não incide diretamente na fachada principal do monumento, mas com a chegada da primavera, com a luz recortando os entalhes e os detalhes arquitetônicos, essa jóia da arquitetura ganha realce e grandiosidade.

O imenso adro fica todo iluminado após o meio-dia e o edifício reflete a plena luz. Na entrada, um de cada lado, percebe-se os cães de Fó (Fó é uma das denominações de Buda na China). Essas esculturas tradicionais, usadas como guardiões dos templos budistas, revelam a influência asiática na arquitetura religiosa portuguesa.
Além dessa ligação com a Ásia, podemos notar sobre os mesmos muros que limitam o adro, na interseção com a fachada frontal, uma máscara indígena de cada lado, figuras representativas das etnias locais. Outros símbolos profanos foram aplicados nesse magnífico templo barroco, como as sereias da talha da capela dourada.

Uma curiosidade que convém destacar nessa obra magnífica é o crucifixo que fica no coro, esculpido ao modo renascentista, representando Jesus com os pés separados, emoldurado por raios luminosos revestidos de folhas de ouro.


Cruzeiro com 12 metros de altura todo esculpido em pedra calcária.

Águias esculpidas em calcário, sendo que algumas são bicéfalas, símbolo monárquico europeu ornamentando o cruzeiro.

Cães de Fo, tradição dos templos budistas, no papel de guardiões, colocados na entrada do adro da igreja. Fo é uma das denominações chinesas para Buda.

Rostos de indígenas esculpidas em pedra calcária, na entrada da igreja.

Galilé da Igreja São Francisco.

Portal esculpido em pedra calcária, figuras de aves e frutas regionais

Detahe da porta e arco interno do Convento.

Claustro do Convento Santo Antônio.



Capela São Francisco.

Capela Santo Antônio.



Mobília do coro com crucifixo estilo renascentista, Jesus com os pés separados.

Púlpito com detalhe do arco lateral.

Cobertura do púlpito com anjos barrocos.

Pintura do forro da nave da Igreja São Francisco.

Pintura do forro da Capela São Francisco.

Pintura do forro do altar-mor da Igreja São Francisco. Os milagres e as tentações de Santo Antônio, a primeira história em quadrinhos feita na Paraíba.

Sacristia da Igreja São Francisco.

Interior do convento Santo Antônio.

Convento Santo Antônio, parte do conjunto franciscano.