terça-feira, 16 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Prefácio
Fazendo a diferença
*Gonzaga Rodrigues
Nota-se claramente que a grande diferença visual entre a cidade nova, flechada de edifícios, e a cidade antiga montada entre os dois rios, é a ausência de características marcantes no adensamento vertical que vem emergindo.
Com a máquina focada para o mar, a partir do Altiplano, do Miramar, do Jardim Luna ou da avenida-shopping que é hoje a estrada de Cabedelo, a superposição de andares não faz diferença da que subiu nas demais capitais vizinhas. Pelo feixe de torres céu acima, tanto faz a engenharia de João Pessoa como a de Fortaleza, Natal, Maceió, salvando-se Recife, apenas pelo privilégio de seus acidentes naturais.
A diferença continua nas ruas e torres da cidade antiga ou no destaque de um parque como o nosso Sólon de Lucena, postal que dá na vista de qualquer turista, independente da curtição de suas lentes.
Reginaldo Marinho, jornalista, inventor e fotógrafo, identifica diferenças para melhor, em cores e linhas arquitetônicas, na nossa paisagem de andares. Esses andares não lhe parecem totalmente cegos, iguais, monótonos, como a mim sempre pareceram, observação que deu na vista também de meu amigo Toinho Cabral. Reginaldo consegue ver variações de cores e de linhas.
E tenta mostrar isso num novo apanhado fotográfico. Novo não só por estar sendo produzido, ainda em tratamento de estúdio, mas pela angulação.
O que sempre achei difícil, ele conseguiu: enquadrar a floresta vertical entre pontos característicos da nossa orla, o Cabo Branco e o Hotel Tambaú. Soube encontrar uma janela do último andar de Miramar que salva esses dois pontos do tapume de edifícios. Reconhece-se a João Pessoa das origens, balizada pelo Cabo Branco, e a mais nova, a que começou a se expor para o mundo turístico a partir do Hotel Tambaú.
Em seu acervo de filho amantíssimo da cidade, sofrido e culto, há lugar para o histórico, o sagrado, o monumental e também para o que aflora do pessoense com os seus jardins. As flores cultivadas e as dos passarinhos.
Ele conseguiu o instante feliz, protegido pela hora do sol, a luz molhada das folhas e achega de um beija-flor sedento num jardim campestre que sugere o mais natural cartão de Natal da cidade. Uma saudação e uma lembrança dos seus dons ao colosso de cimento da nova febre construtora.
Mais do que um novo álbum fotográfico, Reginaldo Marinho redescobre a cidade que ainda resta, ou melhor, que sobra da massa gigantesca concretada diante dos nossos olhos.
*Gonzaga Rodrigues é jornalista, escritor e presidente da Academia Paraibana de Letras.
CAPA
*Gonzaga Rodrigues
Nota-se claramente que a grande diferença visual entre a cidade nova, flechada de edifícios, e a cidade antiga montada entre os dois rios, é a ausência de características marcantes no adensamento vertical que vem emergindo.
Com a máquina focada para o mar, a partir do Altiplano, do Miramar, do Jardim Luna ou da avenida-shopping que é hoje a estrada de Cabedelo, a superposição de andares não faz diferença da que subiu nas demais capitais vizinhas. Pelo feixe de torres céu acima, tanto faz a engenharia de João Pessoa como a de Fortaleza, Natal, Maceió, salvando-se Recife, apenas pelo privilégio de seus acidentes naturais.
A diferença continua nas ruas e torres da cidade antiga ou no destaque de um parque como o nosso Sólon de Lucena, postal que dá na vista de qualquer turista, independente da curtição de suas lentes.
Reginaldo Marinho, jornalista, inventor e fotógrafo, identifica diferenças para melhor, em cores e linhas arquitetônicas, na nossa paisagem de andares. Esses andares não lhe parecem totalmente cegos, iguais, monótonos, como a mim sempre pareceram, observação que deu na vista também de meu amigo Toinho Cabral. Reginaldo consegue ver variações de cores e de linhas.
E tenta mostrar isso num novo apanhado fotográfico. Novo não só por estar sendo produzido, ainda em tratamento de estúdio, mas pela angulação.
O que sempre achei difícil, ele conseguiu: enquadrar a floresta vertical entre pontos característicos da nossa orla, o Cabo Branco e o Hotel Tambaú. Soube encontrar uma janela do último andar de Miramar que salva esses dois pontos do tapume de edifícios. Reconhece-se a João Pessoa das origens, balizada pelo Cabo Branco, e a mais nova, a que começou a se expor para o mundo turístico a partir do Hotel Tambaú.
Em seu acervo de filho amantíssimo da cidade, sofrido e culto, há lugar para o histórico, o sagrado, o monumental e também para o que aflora do pessoense com os seus jardins. As flores cultivadas e as dos passarinhos.
Ele conseguiu o instante feliz, protegido pela hora do sol, a luz molhada das folhas e achega de um beija-flor sedento num jardim campestre que sugere o mais natural cartão de Natal da cidade. Uma saudação e uma lembrança dos seus dons ao colosso de cimento da nova febre construtora.
Mais do que um novo álbum fotográfico, Reginaldo Marinho redescobre a cidade que ainda resta, ou melhor, que sobra da massa gigantesca concretada diante dos nossos olhos.
*Gonzaga Rodrigues é jornalista, escritor e presidente da Academia Paraibana de Letras.
CAPA
Prefácio do autor
Uma cidade mais vegetal do que urbana
Reginaldo Marinho
Na década de sessenta, o escritor José Américo de Almeida havia chegado com bastante antecedência para uma cerimônia na Reitoria. Wilson Marinho e outros professores presentes tiveram a iniciativa de convidá-lo para ver a cidade do alto do prédio da antiga Reitoria da UFPB, no centro da cidade.
O homem permaneceu calado por muito tempo. Olhava calmamente de um lado e de outro da cidade. Dali podia avistar Cabedelo, do lado esquerdo, Tambaú bem à sua frente e o Cabo Branco à direita. A mata do Buraquinho, para onde estava sendo transferida a UFPB, se destacava naquele cenário. Tudo verde. As casas se perdiam no meio dos quintais arborizados. Depois de uma longa observação ele disse: “João Pessoa é mais vegetal do que urbana.” Com esta frase, José Américo prenunciou o destino de João Pessoa, uma cidade construída para ser verde.
A cidade crescia. O êxodo rural decorrente da pobreza no campo e da ausência de políticas públicas eficientes, para manter o homem em seu meio e fortalecer a economia rural, resultou no inchamento das capitais; João Pessoa sofreu essa pressão migratória, expandindo suas fronteiras.
Gilberto Freyre elaborou um conceito para esse fenômeno que se aproxima da leitura de José Américo. Ele disse que o Brasil estava se transformando em uma civilização rurbana, inventando esse vocábulo composto.
É isso aí. O rural invadindo as capitais. Um urbanismo, ao seu modo, rural. Essa migração trouxe para a cidade uma população rural sem qualificação profissional. O crescimento desordenado impôs grandes mudanças urbanas.
A ideia de fazer estas fotos está desvinculada de qualquer estudo ou proposição sociológica, arquitetônica, histórica ou mesmo turística. Ao fazer essas imagens, tive a intenção de registrar em fotografias o que as minhas retinas fixaram em meu olhar desde a infância e, agora, quero compartilhar com você o que os meus olhos vêem.
São imagens que evocam um tempo romântico, em que a gente tinha prazer e liberdade de andar pela cidade, de sentir cada rua, cada ladeira e apreciar cada monumento dessa preciosa urbe. São fotos da Lagoa, da Bica, do Varadouro, do Cabo Branco, da Arte Sacra, do Sanhauá...
Um passeio visual pela cidade que se estende entre o rio Sanhauá e o oceano Atlântico é apaixonante. O patrimônio histórico nos remete a um tempo longínquo que sugere a dimensão da nossa capacidade de criar nas várias linguagens artísticas, tudo com muita qualidade; com destaque para o barroco rico em preciosos ornamentos encontrados na arquitetura religiosa.
Os edifícios compostos pelos conjuntos do convento de Santo Antônio e igreja de São Francisco, o convento e igreja de São Bento e o conjunto Carmelita são monumentais. Sem qualquer disciplina, atendi apenas aos meus sentimentos e passei a registrar essa beleza.
As imagens desse repertório latente somam-se às mais modernas, com a inclusão da rica arquitetura contemporânea que se faz na Paraíba. Confesso que esse trabalho se transformou em puro deleite, é isso que pretendo que você experimente agora. Aprecie esta cidade.
Reginaldo Marinho
Na década de sessenta, o escritor José Américo de Almeida havia chegado com bastante antecedência para uma cerimônia na Reitoria. Wilson Marinho e outros professores presentes tiveram a iniciativa de convidá-lo para ver a cidade do alto do prédio da antiga Reitoria da UFPB, no centro da cidade.
O homem permaneceu calado por muito tempo. Olhava calmamente de um lado e de outro da cidade. Dali podia avistar Cabedelo, do lado esquerdo, Tambaú bem à sua frente e o Cabo Branco à direita. A mata do Buraquinho, para onde estava sendo transferida a UFPB, se destacava naquele cenário. Tudo verde. As casas se perdiam no meio dos quintais arborizados. Depois de uma longa observação ele disse: “João Pessoa é mais vegetal do que urbana.” Com esta frase, José Américo prenunciou o destino de João Pessoa, uma cidade construída para ser verde.
A cidade crescia. O êxodo rural decorrente da pobreza no campo e da ausência de políticas públicas eficientes, para manter o homem em seu meio e fortalecer a economia rural, resultou no inchamento das capitais; João Pessoa sofreu essa pressão migratória, expandindo suas fronteiras.
Gilberto Freyre elaborou um conceito para esse fenômeno que se aproxima da leitura de José Américo. Ele disse que o Brasil estava se transformando em uma civilização rurbana, inventando esse vocábulo composto.
É isso aí. O rural invadindo as capitais. Um urbanismo, ao seu modo, rural. Essa migração trouxe para a cidade uma população rural sem qualificação profissional. O crescimento desordenado impôs grandes mudanças urbanas.
A ideia de fazer estas fotos está desvinculada de qualquer estudo ou proposição sociológica, arquitetônica, histórica ou mesmo turística. Ao fazer essas imagens, tive a intenção de registrar em fotografias o que as minhas retinas fixaram em meu olhar desde a infância e, agora, quero compartilhar com você o que os meus olhos vêem.
São imagens que evocam um tempo romântico, em que a gente tinha prazer e liberdade de andar pela cidade, de sentir cada rua, cada ladeira e apreciar cada monumento dessa preciosa urbe. São fotos da Lagoa, da Bica, do Varadouro, do Cabo Branco, da Arte Sacra, do Sanhauá...
Um passeio visual pela cidade que se estende entre o rio Sanhauá e o oceano Atlântico é apaixonante. O patrimônio histórico nos remete a um tempo longínquo que sugere a dimensão da nossa capacidade de criar nas várias linguagens artísticas, tudo com muita qualidade; com destaque para o barroco rico em preciosos ornamentos encontrados na arquitetura religiosa.
Os edifícios compostos pelos conjuntos do convento de Santo Antônio e igreja de São Francisco, o convento e igreja de São Bento e o conjunto Carmelita são monumentais. Sem qualquer disciplina, atendi apenas aos meus sentimentos e passei a registrar essa beleza.
As imagens desse repertório latente somam-se às mais modernas, com a inclusão da rica arquitetura contemporânea que se faz na Paraíba. Confesso que esse trabalho se transformou em puro deleite, é isso que pretendo que você experimente agora. Aprecie esta cidade.
O tempo e a luz (contracapa)
Ao cumprimentar um dileto amigo ele disse: “Estou correndo contra o tempo.” Fiquei pensando como alguém escolhe um adversário que existe desde o início de tudo e nunca terá fim, é uma escolha equivocada. Considero o tempo um aliado permanente. O tempo e a luz. Quem se dedica à fotografia cultiva a harmonia entre o tempo e a luz. Viver cada momento na cumplicidade da luz.
A sintonia com o tempo permite que o olhar esteja em permanente vigília, um modo budista de ver e sentir o universo que nos cerca. Sem essa dedicação ao tempo, nos perdemos em frações temporais e os momentos fugidios não esperam por você. Essa é uma necessidade pura. Quando cultivamos essa sintonia, vemos os fatos com mais clareza, tudo passa a ter um significado e cabe a cada um de nós a captura dessas imagens sem esforço, um gesto natural.
A luz, companheira sempre presente, dá beleza e relevo a tudo. Os objetos ganham definição, nitidez e cores. A própria etimologia sintetiza na fotografia a linguagem da luz. O tempo e a luz estão presentes em tudo e muitas vezes ninguém percebe. Você não age para o coração bater.Não se sente o coração pulsar em todos os momentos de nossas vidas. Tem gente que só descobre o coração tardiamente, na hora do infarto.
No exercício do magistério, quando lecionei geometria descritiva, encontrei o outro elemento complementar, a compreensão dimensional, o espaço. A régua e o compasso se uniram ao tempo e à luz formando um conjunto instrumental indissociável que subsidiam um simples gesto de fotografar, permitindo que você perceba através das imagens capturadas um mundo que não foi percebido antes. Uma imagem que expressa apenas aquele momento conjugado por esses fatores jamais será vista novamente, com aquela mesma dimensão. Um rio jamais será o mesmo rio, ele é único em cada instante, em cada espaço e tempo.
Esse é o compromisso do fotógrafo, traduzir a beleza aparentemente oculta nas formas, nas cores e na luz. Fotografar é um ato generoso que revela grande prazer na fixação e compartilhamento dessas imagens.
A sintonia com o tempo permite que o olhar esteja em permanente vigília, um modo budista de ver e sentir o universo que nos cerca. Sem essa dedicação ao tempo, nos perdemos em frações temporais e os momentos fugidios não esperam por você. Essa é uma necessidade pura. Quando cultivamos essa sintonia, vemos os fatos com mais clareza, tudo passa a ter um significado e cabe a cada um de nós a captura dessas imagens sem esforço, um gesto natural.
A luz, companheira sempre presente, dá beleza e relevo a tudo. Os objetos ganham definição, nitidez e cores. A própria etimologia sintetiza na fotografia a linguagem da luz. O tempo e a luz estão presentes em tudo e muitas vezes ninguém percebe. Você não age para o coração bater.Não se sente o coração pulsar em todos os momentos de nossas vidas. Tem gente que só descobre o coração tardiamente, na hora do infarto.
No exercício do magistério, quando lecionei geometria descritiva, encontrei o outro elemento complementar, a compreensão dimensional, o espaço. A régua e o compasso se uniram ao tempo e à luz formando um conjunto instrumental indissociável que subsidiam um simples gesto de fotografar, permitindo que você perceba através das imagens capturadas um mundo que não foi percebido antes. Uma imagem que expressa apenas aquele momento conjugado por esses fatores jamais será vista novamente, com aquela mesma dimensão. Um rio jamais será o mesmo rio, ele é único em cada instante, em cada espaço e tempo.
Esse é o compromisso do fotógrafo, traduzir a beleza aparentemente oculta nas formas, nas cores e na luz. Fotografar é um ato generoso que revela grande prazer na fixação e compartilhamento dessas imagens.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
-Cabo Branco, monumento natural de rara beleza
Praia do Cabo Branco com cobertura vegetal de jitirana, Merremia aegyptia, típica da região.
Pela Geografia, a Ponta do Seixas é o ponto mais oriental da América. Bem ali no quintal de Marcus Aranha. Um lugar sagrado que ainda guarda as emanações telúricas de Atlântida, o continente lendário perdido nos confins do oceano. Esse marco geográfico, teoricamente, aproxima a Paraíba da África e da Europa.
Um território que convida à meditação e contemplação, embaladas pelo sopro suave dos alísios, as folhas dos coqueiros cantam os seus mantras que nos fazem viajar pelos universos ancestrais.
Entretanto, a alguns metros dali na direção Norte e outros a Oeste, surge o monumento natural que simboliza a capital da Paraíba, a terra dos Potiguaras. Constituído de argilas e areias multicoloridas, o Cabo Branco avança bravamente sobre o mar e o continente se derrama suavemente no oceano Atlântico.
O Cabo Branco enriquece o imaginário paraibano. Uma falésia atrevida que desafia a força das marés e impõe uma beleza plástica rara, que diferencia a paisagem urbana daqui das outras capitais brasileiras. A falésia é soberana e a força mágica que emana de seus minerais fortalece a têmpera do caráter paraibano.
Coberta por seu manto verde, a falésia acompanha a orla por alguns quilômetros. Uma paisagem que deve ser preservada para sempre, assegurada por dispositivo da Constituição do Estado, um patrimônio paisagístico que a natureza nos oferece generosamente. O convite à meditação é irrecusável. Daquele templo natural, a nossa mente navega entre oceanos e civilizações, sem precisar tirar os pés do chão.
De sua parede argilosa brotam cores que tingem harmoniosamente esse singular monumento da terra, uma pintura viva e dinâmica que se altera com as intervenções das marés desde o começo de Universo.
Fala-se em projetos fabulosos para interromper esse processo natural e espetacular que a natureza nos ofereceu, cujo único tributo que ela cobra é o respeito pela sua preservação que seria prejudicada por qualquer dessas sandices.
A cada dia ficam mais evidentes os grandes desatinos praticados em nome do progresso que deixa atônita toda a humanidade. Permita que o Cabo Branco interaja com a sua natureza, pise naquele chão e sinta o cheiro do mar. Se perca por alguns momentos em seu próprio universo.
Ponto mais oriental das Américas.
Aqui o sol nasce primeiro.
Praia de Tambaú.
Praia de Manaíra.
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